domingo, 11 de novembro de 2012

As balas

Pistola. Sim a pistola. Pode ser óptima para resolver problemas. Pode ser que se acerte no alvo à primeira. Mas primeiro é importante dar nome às balas. Sim. Dar nome às balas para saber quais usar em cada momento. Os alvos não são todos iguais. Não nos podemos por isso enganar nas balas. Imagine-se se é preciso uma bala de borracha e no rótulo diz ser uma bala de chumbo…
As balas são o que nos vai dentro. Os sentimentos são balas estupendas.

Dar nome às coisas. Sim. Se  as coisas têm nome é para serem chamadas por ele. O nome ajuda a clarificar. A tirar a dúvida de se estamos presente disto ou daquilo. Sabe-lo, pode mudar muita coisa em nós. Libertamo-nos cada vez que damos nome ao que se passa cá dentro. Não o fazer, é deixar evoluir exponencialmente muitas das moções interiores que nos roubam a paz, o equilíbrio, que nos perseguem e condicionam no dia a dia, ou até aquelas que exacerbam como que de uma lupa se trata-se, as nossas qualidades, parte vital do nosso ego.

Olhando por exemplo para o nosso cérebro, ou até para o nosso coração. Essas pistolas sempre prontas a disparar.
Num dia em que se acordou irritado. Consequência possível: tudo me parece correr mal. Se calhar poderia começar por identificar o porquê de estar irritado.
Ah! Ontem aquela conversa à noite, com tal pessoa, pôs em evidencia um dos meus maiores medos: o de ser desvalorizado pelos outros. Chamo-lhe por isso: medo, insegurança. Senti-me ameaçado. Haveria razões para me sentir ameaçado? Ah! Então eu não estou irritado porque me custou imenso levantar cedo, ou porque tenho imensas responsabilidades para fazer hoje (como pensava) mas sim porque me irrito cada vez que alguém põe em evidencia os meus medos. Ponderar. Ganhar distância critica. Relativizar positivamente. Para poder integrar isso em mim. Assim, liberto, estou mais disponível para fazer o que tenho a fazer. A ver como sai bem. Agora sim. Sei o nome da bala. Posso disparar.

Mas nem só as nossas balas de fragilidade são motivo para nos levarem a um estado de alma, aparentemente sem precedentes. As virtudes também.
Num dia em se que acordou cheio de coragem. Consequência possível: dou passos maiores que a perna, fico frustrado por não ter conseguido. Se calhar poderia começar por identificar o porquê de estar frustrado. Ah! De facto aquele elogio que me fizeram ontem acerca do meu trabalho levou-me a achar que poderia fazer o dobro em qualidade. Encheu-me de coragem. Gostei imenso de o receber. Será que consigo mesmo ou fiquei a achar que conseguia para poder impressionar a pessoa que me fez o elogio? Hum, se calhar é isso. Na verdade o trabalho que fiz foi muito bem feito. E serei até capaz de melhor, mas.. vou talvez dar um passo à medida do que for realmente capaz. A bala da frustração já não faz sentido. Ponderar. Ganhar distância critica. Relativizar positivamente. Para poder integrar isso em mim. Assim, liberto, estou mais disponível para fazer o que tenho a fazer. A ver como sai bem. Agora sim. Sei o nome da bala. Posso disparar.

Ao contrário, tanto num caso como no outro, vejamos o que acontece se eu der nomes errados às balas.
Imagine-se que tanto na primeira situação como na segunda chamo ou deixo que chamem ao meu medo, insegurança, coragem: estupidez. 
Não tardarei a achar que sou estúpido. E tudo se deve à minha estupidez. Não. Dar os nomes certos às balas é importante. Que tiroteio de mal-entendidos pode acontecer se não o fizermos! Rodar o carregador é se quisermos o discernimento. Desfiarmo-nos a ponto de reconhecer a origem profunda do que se passa dentro de nós. Assumir o que se é, para podermos existir. “Não é o que entra pela  ‘boca’  do homem que o torna ‘impuro’; mas o que sai da sua ‘boca’, isso o torna ‘impuro’ ". Mt 15, 11 .Sermos atiradores furtivos de bem-entendidos.

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