segunda-feira, 29 de outubro de 2012

As melgas

A verdade é quase como as melgas. Porque será que a verdade nos incomoda? Porque nos provoca. Porque nos faz antever um desinstalar.  Porque produzirá em nós algo que não é nosso. Que não nos convém. Porque nos desafia. É irrequieta. Porque nos aponta sempre para a maturidade. Porque só descansa quando for plena. Quando for tudo em todos. Quando repousar sobre nós. Quando for tudo em nós, somos a paz em pessoa. Mete-se connosco. A verdade é um grande desafio. O Senhor é a verdade.

E quando as melgas vêm de noite? Pusemos o repelente mas elas aí estão em todo o seu esplendor. Tentamos dormir e ela zumbe-nos aos ouvidos. Ou a matamos ou abrimos a janela para que ela voe. Correndo o risco de aí entrarem mais melgas. Assim é na noite da vida. A verdade ronda-nos, desperta-nos do sono. Tem um barulho irritante.  Vai-nos fazer levantar e acender a luz. Sim. A luz. A luz é necessária para descobrir a verdade. Quem tem sede de verdade bem se pode preparar para ser nómada. E de certa forma tornámo-nos muito sedentários. Habituámo-nos demasiado às coisas. Às vezes, até às melgas. Não damos a oportunidade ao nosso coração de se espantar. Como diz o papa Bento XVI “ninguém possui a verdade. A verdade é que nos possui.” Quase apetece dizer: ninguém pica as melgas. As melgas é que nos picam. A verdade, essa melga.

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