quinta-feira, 19 de abril de 2012

Na verdade a Fé só faz sentido quando ela é erudita, culta e acompanha em simultâneo o crescimento de todas as outras dimensões da vida. Ao invés, tentar vestir agora o “fato das motivações e razões de Fé” de quando éramos crianças, agora que já não somos crianças, não cola, não cabe, não faz sentido. Pelo que, se interessados pelo “além nós, humanos e toda a criação”, e antes de qualquer teoria religiosa, só num dinamismo de relação onde haja lugar para um Eu e um Tu, é que se fica disponível para crescer no âmbito da experiencia espiritual de Deus.

Após esta premissa, tudo se constrói a pouco e pouco, se em liberdade, sem estar a medo e a preconceito, reconhecendo nem que seja que somos finitos mas que a realidade e a existência não é toda ela finita. É este o salto da Fé. Crer. Que pressupõe assinar um cheque em branco. Confiar. E são tantas as coisas na vida nas quais aplicamos este salto, muitas vezes sem nos darmos conta. Por exemplo, quando comemos uma refeição que alguém de quem gostamos nos preparou, como sabemos que não está envenenada? Nem nos questionamos, pois é intrínseca a confiança. Comemos e pronto. Está nas entrelinhas da relação estabelecida um trato de que cremos que aquela pessoa nos quer Bem.



Curiosamente, conceituarmo-nos ateus “acaba por ser um conceito contraditório porque a negação só existe porque existe também o seu contrário, ou por outras palavras, o não só existe porque também existe o sim.” Por seu turno ser agnóstico é já por si meio caminho para ser crente, o que não deixa de ser curioso pois coloca-o numa dimensão volante, a caminho…do mais, da harmonia plena, no fundo, de Deus, ainda que nem sempre se reconheça que é Ele.

Fé é pois sustento. Que tem conteúdo na crença e que ganha forma nas “razões da Fé” que carecem a todo o momento de renovação. A fé inclui também por isso um processo racional que justifique e faça de palco para o conteúdo espiritual do crer. No fundo tudo é simples. Basta sabermo-nos à partida amados por Deus, revelado por Cristo como sendo uma só coisa. Amor. Deus não pode se não amar. Na aventura desta relação apenas podemos esperar por isso que Deus nos ame. Cabe-nos a nós aprendermos a deixarmo-nos amar e crescer neste feed-back de amor, confiantes que nos eleva às coisas do alto, e faz-nos superar a nós mesmos. E até para isto é preciso Fé.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Portas do céu


Tudo é Reino. Todo o lugar é lugar para aumentar o Reino.
Que seremos nós, se não portas do Reino? Que responsabilidade será a nossa se não a de ser porta do céu? Sê-lo “com Maria, em Cristo, ao Pai.” Com esta dinâmica tudo ganha sentido, tudo é novo porque renovado nesta certeza, na certeza que é por si só a novidade que não caduca, que é um ciclo cheio de virtude. Ser porta do reino é ser mediador ligado do Reino, ao Reino. Ser outro Cristo, porta para o Pai. Ser com Maria, a seta que aponta para o céu.

“O reino de Deus está próximo”. Experimentamo-lo, desde já, ainda que a caminho da eternidade, sempre que esperançados, sempre que alegres, sempre que co-redentores acompanhados por Cristo nesta missão que Ele próprio começou, missão que é só uma, que é d´Ele, que é também nossa. Alegres porque na nossa “pequenez se detiveram Seus olhos”. O Pai faz o apelo, quer “Ser tudo em todos” tal como somos, a partir do que somos.

É bela esta imagem de ser porta do céu. Ainda que frágil, por vezes perra, e tantas vezes opaca, incompleta, carente, mas que vai sendo canal do Pai e para o Pai. Para a felicidade. Para a eternidade. É uma grande responsabilidade, que não deixa de ser acompanhada em graça pelo Espírito Santo, quando invocado, quando solicitado em verdade de coração, “Ele sopra onde quer” e quando quer, diria. Estar por isso atento, reconhecer os sinais da sua presença que sempre nos procura e nos deseja, onde estivermos, fazendo o que tivermos que fazer. Fazer tudo como se todos o fizessem. Experimentar desde já as delicias do céu. Fazer do “ordinário” o “extraordinário”. Fazer da rotina uma rotina de Deus. Aprender a amar. Amar. Ser porta do céu.